terça-feira, 30 de julho de 2013

SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE - DESTRUIÇÃO DA FLORESTA

Foto de Daniel Rocha


«Num país essencialmente pobre, um grande projecto agro-florestal começa com atropelos ambientais e sociais, provocando uma onda de contestação.

São apenas 50 quilómetros entre São Tomé e Ribeira Peixe, mas o caminho faz-se devagar. A estrada é sinuosa, acomoda-se ao contorno da costa e vence a orografia em curvas e declives, com o mar à esquerda e a floresta verdejante à direita.

Alguns minutos além do rio Iô Grande surgem as primeiras palmeiras. Estão alinhadas em fileiras, entre as quais foi semeada uma leguminosa para fertilizar o solo. O conjunto estende-se num tapete geométrico até ao limite onde a floresta foi cortada. Ao fundo, enquadrado por esta paisagem dual, vê-se o Cão Grande, o curioso dedo vulcânico que se eleva a 663 metros de altitude.

O cenário é tudo menos um simples cartão postal de São Tomé e Príncipe. Aquelas palmeiras fazem parte de uma exploração agro-florestal que é o tema do momento no país. Implica derrubar áreas de floresta para produzir óleo de palma e está a semear a discórdia entre cidadãos, organizações não-governamentais, empresas e administração central.

Não é uma história que se encaixe numa divisão simplista entre defensores e destruidores da natureza. São Tomé e Príncipe é um país pobre, com um PIBper capita de 1100 euros por ano, 6% do português. As roças de cacau e de café que alimentaram a economia colonial estão quase todas falidas. Nas cidades há poucos empregos.

O país precisa de investimento. Mas a população não está disposta a aceitá-lo a qualquer custo. O trinómio idílico do desenvolvimento sustentável, onde a economia, o ambiente e o bem-estar social andam de mãos dadas, não está aqui a funcionar.

Produzir óleo de palma não é uma novidade no país. No anos 1980, o Governo criou a Empresa de Óleos Vegetais (Emolve) e plantou cerca de 600 hectares de palmeira-andim (Elaeis guineensis) no Sul de São Tomé. O projecto durou pouco e estava moribundo quando, há cinco anos, o Governo começou a negociar uma parceria para o ressuscitar. Surgiu então a Agripalma, com 12% de capital do Estado são-tomense e 88% da STP Invest, uma sociedade belga cujos responsáveis estão ligados a empresas da área das renováveis.

A ideia é replantar e ampliar os palmares para quase 5000 hectares e construir uma fábrica. O investimento equivale a 29 milhões de euros e a produção esperada é de 20 mil toneladas de óleo de palma por ano, em 2017. Parte destina-se ao consumo local e parte será exportada.

Corrida a África
O projecto surge num momento em que muitos investidores estão de olho na exploração do óleo de palma em África. Actualmente, 85% da produção mundial vem da Indonésia e da Malásia, com destino sobretudo à China, Índia e União Europeia. Com a expectativa de duplicação do consumo até 2020 - como óleo comestível e para a produção de biodiesel -, outras áreas de cultivo estão a ser procuradas nos trópicos.


Num relatório de Dezembro de 2011, o Programa das Nações Unidas para o Ambiente já alertava para a destruição de florestas tropicais devido "à rápida expansão da monocultura do óleo de palma". Conflitos ambientais e sociais, em especial pela posse da terra, têm sido reportados em países africanos como a Nigéria, Camarões, Gana, República Democrática do Congo, Costa do Marfim.

Em São Tomé é Príncipe, estão a repetir-se, desde que os contratos com a Agripalma foram assinados em 2009. "A partir deste momento, as coisas começaram a correr mal", queixa-se Bastien Loloum, organização não-governamental Marapa (Mar, Ambiente e Pesca Artesanal). O estudo de impacto ambiental, diz Loloum, é deficiente, não teve consulta pública e foi difícil de obter. "Estava na Bélgica, em inglês, e a tradução é má", afirma.

Em documentos do projecto, há várias referências a compromissos de responsabilidade ambiental. A própria empresa que executará o projecto - a Socfinco, detentora de 100 mil hectares de palmares em África - é fundadora da Roundtable Sustainable Palm Oil, criada pelos produtores em 2004 para garantir que as explorações seguem os preceitos do desenvolvimento sustentável.

No terreno, porém, os exemplos contrários multiplicam-se quando se passa a cidade de Porto Alegre, no extremo sul de São Tomé, e se segue por uma estrada irregular de terra batida. Depois de um pequeno percurso a pé, entre fetos e coqueiros, Bastien Loloum mostra uma área pejada de árvores abatidas. Ali passa um curso de água que mal se vislumbra. "Deviam ter guardado uma faixa de 40 metros a partir da ribeira", lamenta Loloum, que coordena projectos da Marapa naquela região.

Mais à frente, o caminho passa por troços difíceis, com pequenas pontes periclitantes, até desaguar numa área com amplas faixas de floresta abertas para as palmeiras. Há ribeiras entulhadas com troncos e acentuados declives recém-despidos. A vulnerabilidade à erosão é evidente.

Foi nesta área que a população se rebelou contra o avanço das máquinas. O projecto previa, na região de Porto Alegre, o envolvimento dos agricultores locais - num modelo distinto das plantações industriais em Ribeira Peixe. Mas os moradores dizem que os bulldozers avançaram sem aviso nem cerimónia. "O problema é a maneira como estão a agir na comunidade", afirma Fidel Sanches, presidente da Associação Comunitária de Porto Alegre.

Reforma falhada
Em grande medida, o que foi derrubado correspondia às ruínas de uma reforma fundiária falhada, que teve início nos anos 1990. Ex-trabalhadores das roças receberam lotes de terreno do Estado. Mas, por falta de apoio, de formação ou de iniciativa, muitos nunca cultivaram a sério os seus talhões. Hoje simplesmente retiram da terra o que a terra lhes dá - algum cacau ou café remanescente, bananas, cocos, fruta-pão. Das próprias palmeiras extrai-se a seiva para fazer o vinho de palma. Grandes árvores transformam-se em madeira, o material de construção mais popular na ilha. "A terra não era cultivada, mas havia a nossa madeira que estávamos a proteger", justifica Fidel Sanches. "Derrubaram e destruíram", acrescenta.


O sangue ferveu numa manhã de Maio passado. De catanas em punho, a população impediu o avanço das máquinas. A Agripalma suspendeu as operações e agora vêem-se no local apenas alguns trabalhadores a seccionarem grandes árvores já abatidas.

Num país onde a falta de emprego é um problema, a perspectiva de trabalho no projecto Agripalma não entusiasma a todos. "São trabalhadores extras. Não têm regalias, segurança social, se ficam doentes ninguém lhes paga", diz Adelino dos Prazeres, outro morador de Porto Alegre.

O conflito social à volta do projecto não é o único. As plantações estão a tomar o lugar da floresta, com efeitos ainda mal estudados. O resumo do estudo de impacte ambiental faz uma descrição muito sumária da fauna e nula da flora. Os impactos sobre a paisagem e a biodiversidade estão resumidos em três parágrafos curtos. Um deles diz: "A biodiversidade será preservada como uma prioridade".

São Tomé e Príncipe tem animais e plantas únicos, que não existem em mais lugar nenhum. A sua avifauna, por exemplo, inclui espécies criticamente ameaçadas de extinção, como a galinhola (Bostrychia bocagei), o picanço (Lanius newtoni) e o anjolô (Neospiza concolor). "A grande questão é que se desconhecem quais são as áreas vitais para estas espécies", alerta Nuno Barros, da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA). "Não havendo estudos, pode-se estar a estragar coisas que nem sequer conhecemos", diz Barros.

Providência cautelar
Organizações como a SPEA somaram as suas preocupações à dos moradores e de outros sectores da sociedade. O resultado é um movimento cívico que tem agora agido em conjunto. Uma petição "contra a desflorestação" foi lançada na Internet e uma queixa formal levou o Ministério Público a entrar com uma providência cautelar, no princípio de Julho, para suspender o projecto.


Parte da luta legal tem sido garantida pelo envolvimento de juristas são-tomensens, como a bastonária da Ordem dos Advogados, Celiza de Deus Lima, e o ex-procurador-geral da República, Adelino Pereira. Este advogado tem uma concessão agrícola na zona do projecto, mas diz que o que o move não é nenhum interesse pessoal. "Quando vi aquilo, fiquei chocado", afirma, no seu escritório na cidade de São Tomé.

Adelino Pereira não entende como é que o Estado entrou com os terrenos todos da Agripalma e só ficou com 12% da empresa. "É óbvio que há uma desproporção imensa". A Agripalma pagará ao Estado uma renda anual de sete euros por hectare, o que, para o advogado, "é uma aberração". Parte dos terrenos, embora públicos, pode ser hipotecada para empréstimos bancários.

Os contratos prevêem uma concessão de até 75 anos, amplas isenções fiscais e o monopólio da actividade no país, enquanto estiverem a ser pagos os empréstimos. "Os contratos estão impregnados de vários vícios", conclui Adelino Pereira.

"Há muita desinformação e muito aproveitamento político", rebate o director-geral da Agricultura, Carlos Pascoal. O projecto da Agripalma insere-se numa tentativa de atrair investidores estrangeiros para viabilizar áreas agrícolas que não estão a ser cultivadas. "Temos de reagir a esta economia que não existe e alargar a nossa base produtiva de exportação", diz Carlos Pascoal.

O director-geral admite que nem tudo tem corrido bem. "Houve alguns erros, áreas que não deveriam ser derrubadas e foram. Mas não se pode pôr em causa um projecto por erros que são reversíveis", afirma.Depois das queixas, o Governo criou uma comissão permanente para fiscalizar os trabalhos, embora muitos duvidem de que haja recursos para manter os funcionários no terreno.

Carlos Pascoal - que representa o Estado no conselho de gerência da Agripalma - diz que as cláusulas do contrato são o resultado de oito meses de negociações e que a renda paga pelos terrenos está acima dos quatro euros por hectare previstos na legislação. "Não vejo onde está o crime disto...", comenta.

Terras a menos
O Governo vê como natural a protecção do negócio por um monopólio enquanto houver dívidas à banca, bem como a hipoteca de terrenos públicos - já que o próprio Estado é parte interessada no projecto. Quanto à não-realização de uma consulta pública para o estudo de impacto ambiental, prevista na lei, Carlos Pascoal pergunta: "Qual é o projecto que teve consulta pública?"


Há uma questão ainda delicada por resolver. Dos 4917 hectares previstos no projecto, 1272 seriam concessionados no Príncipe. Mas o governo regional daquela ilha chumbou a ideia e será impossível encontrar, na ilha de São Tomé, mais áreas planas para as palmeiras. "Não temos", diz Carlos Pascoal. O contrato com a STP Invest tem agora de ser revisto.

Na sede da Agripalma em São Tomé, a política neste momento é a do silêncio. Ao PÚBLICO foi apenas entregue um comunicado de 19 de Junho, assinado pelo director-geral Jan Van Eykeren. No documento, a Agripalma diz que "desde o início do projecto tem procurado respeitar a protecção do ambiente" e que está a seguir as recomendações contidas num estudo complementar que mandou fazer sobre a biodiversidade.

Também afirma que não desflorestou qualquer área dentro do Parque Natural Obô - criado em 2006 e onde se concentra a vegetação original da ilha -, e que não está a explorar áreas legalmente classificadas como floresta, já que as zonas concessionadas ou já eram palmares ou tinham sido reocupadas por coqueiros e outras árvores, depois de abertas à agricultura há muito tempo. Segundo a Agripalma, não há aves endémicas na área concessionada.

A empresa refere que está a empregar 800 trabalhadores, com uma folha de pagamentos mensal de 1500 milhões de dobras (61.000 euros)."Não vamos destruir o país para dar emprego a 800 pessoas", contesta o advogado Adelino Pereira. "Não estamos contra a Agripalma. Queremos é que as coisas sejam bem feitas", completa, repetindo uma afirmação comum a todos os envolvidos no movimento cívico ouvidos pelo PÚBLICO.

Os ânimos estão longe de acalmar. Na semana passada, trabalhadores da Agripalma voltaram a ser interpelados em Porto Alegre. E, se não houver alterações, o próximo passo da contestação já está agendado, segundo diz Fidel Sanches: "Estamos à espera da chuva para retomar a nossa roça".»

FONTE: Jornal Público on-line 30/7/2013

domingo, 30 de junho de 2013

O holocausto da Reserva Ornitológica do Mindelo

 

A negro: áreas urbanas e industriais
A verde: floresta
 
Um aterrador diagrama de como a Reserva Ornitológica do Mindelo, criada em 1957, foi sendo urbanizada ao longo dos anos. Esperemos que um dia os responsáveis sejam devidamente punidos e que todas as construções, que não existiam em 1957, sejam demolidas, mediante expropriação paga por parte do Estado.
 

sexta-feira, 1 de março de 2013

O bom exemplo de Espanha vs a decrepitude de Portugal



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O ministro da Agricultura espanhol, Miguel Arias Cañete, disse hoje que a o lince-ibérico e a água-imperial são os grandes êxitos na história da conservação em Espanha e um exemplo da cooperação entre autoridades e ambientalistas.

O lince-ibérico e a águia-imperial são “duas das espécies mais emblemáticas em Espanha, os símbolos da floresta mediterrânica melhor conservados na Península Ibérica”, declarou o ministro da Agricultura espanhol, citado pela agência de notícias Efe.

Durante a intervenção na X Convenção ‘Fundación Amigos del Águila Imperial, Lince Ibérico y los Espacios Naturales de carácter privado", que decorreu hoje em Madrid, o ministro espanhol recordou que o melhor exemplo do êxito da recuperação da águia-imperial foi ter passado de 50 casais reprodutores em meados do século XX, para 370 casais nos dias de hoje, e para mais 10 casais em Portugal.

Em declarações à Lusa, o ambientalista da Quercus Paulo Lucas considerou que Portugal está a beneficiar dos programas e políticas de conservação desenvolvidos em Espanha, mas lamentou que “não haja em Portugal uma política de conservação de espécies criticamente em perigo”, nem uma “política de investimento público, de acordo com compromissos assumidos com a União Europeia”.

“A águia-imperial deixou de nidificar durante muitos anos em Portugal, mas agora já está a nidificar nas zonas transfronteiriças do interior, fruto das políticas de conservação de Espanha”, explicou o coordenador do grupo de trabalho de biodiversidade da Quercus.

No caso do lince-ibérico, o ministro espanhol disse que a situação daquele felino em vias de extinção ainda é “delicada”, mas que a recuperação tem sido “substancial” e que que esse trabalho de conservação deve ser “consolidado” com uma adequada gestão do território, esperando contar com a apoio dos donos dos terrenos em espaços naturais.

Em Portugal, foi criado, como medida compensatória para a construção da Barragem de Odelouca, no Algarve, o Centro Nacional de Reprodução de Lince-Ibérico em Silves e o programa de criação em cativeiro está a ter sucesso com o nascimento de algumas crias.

“Portugal ainda tem um longo caminho para reintroduzir na natureza o lince-ibérico”, considerou o ambientalista, referindo que a “fase crítica” e “delicada” é a passagem dos animais em cativeiro para o estado selvagem.

O lince-ibérico é um felino em vias de extinção que só existe em Espanha e Portugal e a águia-imperial é uma das aves de rapina mais raras do mundo.

A população residente atual do Centro de Reprodução de Lince-ibérico em Silves conta com 18 linces: treze dos que inauguraram o centro em 2009, três transferidos no final de 2010 e dois transferidos no final de 2011. No total, são nove fêmeas e nove machos.

Ambas as espécies – lince-ibérico e águia-imperial – alimentam-se, essencialmente, de coelhos-bravos e encontram-se hoje classificadas como “criticamente em perigo”, pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal.
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Fonte texto: jornal i on-line 28 Fev. 2013.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Estudo revela relação entre exposição a pesticidas e diabetes tipo 2


 


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Um estudo da Universidade de Granada (Espanha) revelou que existe uma relação clara entre a exposição a pesticidas, ingeridos através dos alimentos, ar ou água, e a prevalência da diabetes tipo 2 em pessoas adultas.

Também designada de diabetes não insulinodependente ou do adulto, a diabetes tipo 2 corresponde a cerca de 90 por cento dos casos da doença.

Num artigo publicado no último número da revista "Environmental Research", os cientistas demonstram que as pessoas com maiores concentrações do composto químico DDE, principal metabolito do pesticida DDT, têm um risco quatro vezes maior de desenvolver diabetes do tipo 2, do que as que apresentam níveis mais baixos, informou a agência noticiosa espanhola EFE.

Os pesticidas (poluentes orgânicos persistentes, POP) tendem a acumular-se na gordura do corpo humano, tendo os cientistas analisado um grupo selecionado de POP no tecido adiposo de 368 adultos que recorreram aos hospitais de San Cecílio de Granada e de Santa Ana de Motril.

A prevalência da diabetes aumentou significativamente nas últimas décadas, calculando-se que, em 2030, atinja 4,4 por cento da população mundial.
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Fonte: Jornali on-line, 28 Jan. 2013

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

SEPARADOR CENTRAL E TALUDES DAS BERMAS DA AUTO-ESTRADA A28







 Onde estão as plantas?
 
Longe vão os tempos em que os separadores e nós de ligação das AE's eram ajardinados com mestria, algo de cada vez mais raro. Coisas de um passado cada vez mais distante.

Fotos de 9 Dez. 2012

Se as auto-estradas fossem ajardinadas, para além da questão estética, muitos empregos seriam gerados, que diferença com a restante Europa, lanço aqui um apelo às seguintes entidades: